Piracicaba – “Que eu adoro tanto, cheia de flores, cheia de encanto…”
“Pamonhas, pamonhas, pamonhas. Pamonhas de Piracicaba…”. Se você já escutou esse famoso refrão em alguma cidade do Brasil, obviamente então ouviu falar deste município de cerca de 370 mil habitantes, localizado a aproximadamente 160 quilômetros da capital paulista. E se já teve a curiosidade de conhecer a região para provar a tão divulgada iguaria, saiba que a “terra da pamonha” faz sucesso também entre os turistas pela variedade de peixes servidos às margens do rio que leva o nome do município. Na língua tupi, Piracicaba significa “lugar onde o peixe para”. E, definitivamente, para mesmo – nos menus dos restaurantes e nos pratos dos clientes.
Os conhecidos peixes no tambor – que são assados em grelhas ao ar livre – são encontrados na simpática Rua do Porto, tradicional ponto localizado próximo à região central da cidade e habitado principalmente por pescadores e construtores de barcos que mantêm as charmosas casas históricas e que ajudam a conservar a tradição ribeirinha e as lembranças da fundação de Piracicaba. Em toda a extensão da orla, que engloba as avenidas Beira Rio, Alidor Pecorari e Cruzeiro do Sul, diversos restaurantes, com mesas e cadeiras espalhadas pelo calçadão, disputam a preferência dos clientes que optam pela tranquilidade de fazer uma refeição enquanto contemplam o rio que atravessa a cidade.
Os peixes no tambor exalam seus aromas por ali e o convite para degustá-los torna-se irrecusável, principalmente pela oportunidade tanto de poder escolher o peixe a ser consumido quanto de ver, sem precisar sair da mesa, os cozinheiros assando e temperando aquela iguaria. Os mais procurados pelos visitantes são o pintado, o filhote, a piapara e o tambaqui.
Já para quem prefere outros tipos de pratos, a cidade oferece uma variedade interessante de restaurantes com culinária japonesa, italiana, portuguesa, mineira, nordestina, além de muitas pizzarias, lanchonetes e grandes franquias de fast food.
Ainda no roteiro gastronômico, a terra que é conhecida pela pamonha e pela abundância de peixes é também famosa pela brasileiríssima cachaça. Portanto, vale a pena se programar para conhecer a Cachaçaria Piracicabana e conferir de perto como é feita a bebida de aguardente de cana.
Mas, voltando à região do rio, não é só da boa gastronomia que vive a orla da Rua do Porto. Nos finais de semana e feriados, turistas vindos de diversas cidades formam fila para poder conhecer o Rio Piracicaba mais de perto. E quem garante a diversão é o empresário e guia turístico Luiz Fernando Magossi, mais conhecido por todos que passam por ali como Gordo. Ele realiza passeios de barco, com saídas do Píer Municipal. Durante os 15 minutos de navegação, a sensação é de encantamento com a beleza das águas e da vegetação típica do local. Enquanto sentem aquela brisa relaxante vinda do rio, os visitantes podem observar os vôos rasantes das garças que estão sempre à espreita para caçar os peixes, além de terem a oportunidade de ver outras belas aves como o biguá e o socozinho.
Com agendamento prévio, é possível participar de um passeio ainda mais completo que vai até o paradisíaco Bairro Tanquã, conhecido como o Pantanal Piracicabano, onde é servido um almoço típico em um rancho.
Outra opção interessante para os finais de semana é o passeio de aproximadamente 20 minutos no alegre e colorido Trenzinho Maria Fumaça, que atravessa algumas ruas e avenidas importantes da cidade, apresenta os principais pontos turísticos daquela região e conta um pouco da história do município por meio de um roteiro autoguiado de áudio em português e em inglês.
Mas a aventura de desbravar Piracicaba pode ser feita não somente pelo solo ou pelas águas, como também pelos céus, por meio do Passeio de Balão, que costuma durar cerca de uma hora. A visão panorâmica que se tem do rio e dos principais pontos de visitação é apaixonante. O percurso depende da direção e da força do vento e se encerra em terra firme com um completo café da manhã com direito a espumante para celebrar o sucesso do passeio.
O encontro da arte, da cultura e do lazer
Um clássico da música sertaneja já avisava: “O Rio de Piracicaba vai jogar água pra fora…”. Se tem um local que é parada obrigatória para os turistas que visitam a cidade pela primeira vez, esse lugar é o vistoso Parque do Mirante.
Sinônimo de ar puro, o espaço reúne muitas árvores nativas e oferece uma visão deslumbrante tanto do Salto do Rio Piracicaba – com a força das corredeiras que ficam ainda mais imponentes na época das chuvas – quanto, ao fundo, dos prédios que compõem o cartão postal da região central. Entre os meses de outubro e fevereiro, é possível ver peixes como pintados, dourados, corimbatás e piabas literalmente saltando para subir o rio contra a correnteza num espetáculo natural conhecido como Piracema, que caracteriza o período de desova dos peixes.
Ainda na área do parque, é possível conhecer o Aquário Municipal, que abriga mais de 80 espécies de peixes, além de apresentar informações e dados sobre as variedades expostas. É muito interessante explorar o local e se encantar com os detalhes das pequenas passarelas de madeira onde os visitantes percorrem os recintos por cima dos aquários.
A cerca de 200 metros dali, já na charmosa Ponte do Mirante, encontra-se o recém-inaugurado Alto do Mirante, uma área de contemplação de toda a orla turística da região da Rua do Porto e, agora, a vista mais privilegiada do Rio Piracicaba. O espaço, que comporta até 200 pessoas, foi construído em uma altura de 24 metros e conta com café e elevador panorâmico. Quando se está no topo do complexo, não tem como não se lembrar do hino da cidade, que diz: “Amo teus prados, os horizontes, o céu e os montes que vejo aqui… Piracicaba que eu adoro tanto, cheia de flores, cheia de encantos…”. É uma experiência inesquecível.
A próxima parada, não muito longe dali, responde por Engenho Central. O lugar reúne grandiosas edificações datadas dos séculos XIX e XX que um dia abrigaram moendas, caldeiras e armazéns para a produção e estocagem de açúcar e álcool, tudo isso dentro de um parque com mais de 85 mil metros quadrados. Vale uma caminhada pelo enorme espaço, que é sede de eventos importantes do município, como a tradicional Festa das Nações (que costuma acontecer no mês de maio), além da concorrida Paixão de Cristo (com apresentações durante toda a Semana Santa) e do Salão Internacional de Humor (de agosto a outubro). Outra atração relevante dentro desse revitalizado patrimônio municipal e estadual é o moderno Teatro Erotides de Campos, inaugurado no ano passado. Finalizado esse passeio, dá pra atravessar o rio de carro ou mesmo a pé, já que duas passarelas ligam o Engenho à Rua do Porto.Portanto, voltando ao outro lado das corredeiras, uma casa construída no final do século 19 chama a atenção pelos detalhes arquitetônicos marcados por pedra e ferro: é o Museu da Água, que fica exatamente no mesmo local onde funcionou a primeira estação de captação e bombeamento de água do município. É mais um lugar para contemplar o rio que corta a cidade e, mais que isso, é um ponto de exposições sobre o tema e de conscientização aos visitantes sobre a importância do uso da água.
Descendo a Avenida Beira Rio, ainda perto do museu, pode ser vista a Casa do Povoador, um espaço dedicado às exposições e festividades folclóricas. Ponto de encontro de muitos artistas locais, sempre tem algo a ser visitado por lá.
Já os folhetos dos roteiros turísticos bilíngues da cidade, os dados históricos e sobre os eventos do município, além de informações sobre a localização de atrativos, opções de lazer e hospedagem podem ser encontrados no Casarão do Turismo, ponto de receptivo, que funciona como centro de visitantes, onde já funcionou uma antiga olaria.
Ainda nas imediações do casarão, acontece nos finais de semana e feriados a Feira do Artesanato, com trabalhos de artistas da cidade em materiais como crochê, patchwork, palha de milho, cerâmica, além de souvenirs para os turistas.
Ah, e caso você decida conhecer a cidade em algum final de semana aleatório sem muita programação prévia, não custa consultar se terá algum evento ou festa típica, já que por lá as comemorações são frequentes – tem Festa da Batata (em fevereiro), da Mandioca (setembro), do Milho Verde (março), do Peixe e da Cachaça (novembro), além da divertidíssima Sapucaia (sempre uma semana antes do Carnaval) e da folclórica Festa do Divino (julho).
Depois de conhecer a gastronomia única e de respirar um pouco da arte e da cultura na orla do Rio Piracicaba, nada melhor que visitar o Parque da Rua do Porto, lugar muito frequentado pela população local para a prática de esportes. Lá, é possível andar de pedalinho, descansar no gramado ou até mesmo praticar uma caminhada num percurso de dois quilômetros em volta da lagoa.
Para os adeptos da caminhada e da corrida, há outros lugares bastante frequentados pelos praticantes de esportes ao ar livre: a Avenida Cruzeiro do Sul – também pelos ótimos restaurantes, a Estação da Paulista e a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP).
Além do turismo, muita qualidade de vida
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Piracicaba está na lista dos 100 municípios brasileiros com melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Na prática, significa que indicadores como longevidade, educação e renda da população estão em um patamar considerado alto. O bairro Monte Alegre, por exemplo, concentra belas casas antigas em uma região que no século retrasado foi uma grande produtora de cana-de-açúcar. O destaque fica por conta da sedutora Capela de São Pedro que, hoje restaurada e de propriedade particular, foi pintada e decorada pelo artista italiano Alfredo Volpi, falecido em 1988, e é a réplica exata de uma igreja toscana. Já a cerca de 30 quilômetros dali, está localizado um autêntico núcleo de colonização trentino-tirolesa no Brasil.
Os distritos vizinhos de Santana e Santa Olímpia são famosos por manterem vivas as tradições trazidas pelos primeiros imigrantes vindos do antigo Tirol que, abalados com a crise europeia, chegaram à região no século XIX e ali se estabeleceram e fincaram suas raízes. O clima interiorano é marcado pela calmaria nas ruas, além da simplicidade da população local que não dispensa uma boa prosa ao ar livre. É fascinante conversar com alguns descendentes de imigrantes e perceber pelas histórias contadas com aquele forte sotaque trentino o quanto são apaixonados pela cultura de seus antepassados. Mas esse sossego todo se transforma quando tem comemorações nos dois distritos – e o que não faltam são festas: da polenta, da cucagna (prato característico com mexido de ovos, linguiça e polenta), do vinho, de Natal – sempre com direito a músicas, comidas, danças e trajes típicos. Outro jeito de interagir com a comunidade local é por meio da Rota Tirolesa, que inclui um passeio pré-agendado de trenzinho com direito à visitação a produções de vinhos e cachaças produzidas naquela região, além de uma exibição de danças folclóricas e degustação de comidas típicas.
Um local que também costuma atrair muitos visitantes é o Zoológico Municipal, que abriga mais de 500 espécies de animais. Já para quem gosta de natureza, o Horto Florestal de Tupi é outro ponto interessante a ser desbravado, já que é uma reserva protegida por um órgão estadual e estruturada para receber os turistas, com lagos, quiosques e churrasqueiras.
Uma parada mais que obrigatória para quem é apaixonado por futebol é o Estádio Municipal Barão de Serra Negra, casa do querido time alvinegro XV de Piracicaba, que comemorou 100 anos no dia 15 de novembro de 2013.
Momentos únicos também podem ser desfrutados na região central, que concentra importantes pontos de educação e preservação da memória do município, como o Museu Prudente de Moraes (para quem nãos sabe, Prudente de Moraes foi o primeiro presidente civil do Brasil e seu corpo está enterrado em Piracicaba), a Pinacoteca Municipal Miguel Dutra e o Centro Cultural Martha Watts. Para o passeio pelo centro da cidade ficar completo, vale conferir as delícias e excentricidades presentes no Mercado Municipal.
Em meio à mistura de cores e aromas espalhados pelos corredores e boxes, não faltam os tradicionais pastéis, bem como diversas frutas, verduras, carnes, doces, lanches e, claro, as famosas “pamonhas, pamonhas, pamonhas…”. Afinal, elas também são de Piracicaba. * para mais informações sobre esse destino, acesse: Secretaria de Turismo de Piracicaba / Passeio de Barco / Passeio de Balão / Capela Monte Alegre / Rota Tirolesa / Cachaça Piracicabana / Fábrica di Pamonha** parte desse texto foi publicada na revista Brasil Travel News.
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