Um final de semana para renovar a alma no Parque Nacional de Itatiaia
Três estados – Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais – podem se orgulhar de fazer divisa tendo como cenário o primeiro parque nacional do Brasil, o Parque Nacional de Itatiaia. A antiga fazenda de um dos mais expressivos símbolos do capitalista empreendedor que o país já teve – Barão de Mauá – deu lugar à atual unidade de conservação em 14 de junho de 1.937 no governo de Getúlio Vargas. Hoje, o espaço é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, mais conhecido por ICMBio.
O parque é dividido pelas direções alta e baixa. Na chamada Parte Baixa, com fácil acesso pela Via Dutra para quem vem de São Paulo ou do Rio de Janeiro, o clima é tipicamente tropical e o que mais vemos são rios de águas cristalinas, imponentes formações rochosas que, de longe, são vistas como aquelas inspiradoras cadeias de montanhas sem fim e muitas cachoeiras em meio à típica vegetação da mata atlântica.
Nem bem passamos pela guarita de entrada do parque e logo vem aquele aroma de flores, de mato, de natureza. O relaxamento não é opcional, é espontâneo. Muito verde, ar puro e, pelo caminho asfaltado, não é raro aparecerem algumas espécies nativas da região, como macacos-prego, esquilos e outros animais que habitam aquele enorme espaço verde.
Ainda na Parte Baixa, uma concentração de hotéis muito bem estruturados e aconchegantes pousadas atrai turistas o ano todo, já que no verão o bom por lá é aproveitar para se refrescar nas inúmeras cachoeiras espalhadas pelo parque e no inverno, as baixas temperaturas deixam toda aquela paisagem ainda mais perfumada e com um clima extremamente romântico.
Só para se ter uma noção da grandeza da unidade de conservação em relação à fauna e flora locais, o parque conta com cerca de 360 espécies de aves, dentre eles os tangarás, saíras, sabiás-laranjeira, araçaris-banana, tucanos, beija-flores, além de mais de 60 tipos de mamíferos, como onças-pardas, cachorros-do-mato, pacas, preguiças, dentre dezenas de outros animais. Isso para não citar as centenas de espécies de insetos, répteis, anfíbios…
E um pouco dessa riqueza pode ser vista de pertinho no Centro de Visitantes. O local abriga um museu com animais embalsamados típicos da região expostos ao público – com informações detalhadas das espécies ali apresentadas – e ainda reúne ambientes com exposições, maquetes, auditório e um espaço onde as aves podem ser melhor conhecidas pelos turistas assim que os mesmos apertam os botões dos painéis que identificam os cantos de cada uma.
Além da enorme diversidade de animais e plantas, as dezenas de trilhas e cachoeiras também competem para ver “quem” chama mais a atenção dentre as exuberantes belezas naturais do Parque Nacional de Itatiaia. Integram a Parte Baixa a Trilha dos Três Picos (são seis quilômetros de caminhada rumo aos 1.662 metros de altitude onde se pode avistar a tranquila cidade de Itatiaia), o Lago Azul (piscina natural formada entre as rochas do Rio Campo Belo), a geladíssima e ultra refrescante Piscina Natural do Maromba, a Cachoeira Itaporani (ideal para um bom banho de rio nos dias mais quentes) e a estonteante Cachoeira Véu de Noiva, parada obrigatória para fotos (e pedidos de casamento para os mais inspirados).
E para encerrar o tour pela parte mais baixa da unidade, o Mirante do Último Adeus é outra parada obrigatória, pois oferece uma visão espetacular de vários pontos atrativos do próprio parque, além de uma vista parcial do Parque Nacional da Serra da Bocaina.
Já na chamada Parte Alta, a visão muda totalmente do que se vê na Parte Baixa, pois lá em cima, além de a vegetação ser baixa, o que mais tem são aquelas grandes formações rochosas (muitas delas com características pontiagudas), com penhascos e encostas que formam o topo do planalto da Serra da Mantiqueira. E o acesso é pelo BR-485, já no município mineiro de Itamonte.
Ali, naquela altitude encantadora, os observadores de aves são capazes de passar horas e horas no Brejo da Lapa, talvez acompanhados dos praticantes de meditação e também dos eternos apaixonados pela natureza, já que dá pra ter uma visão privilegiada de um bosque maravilhoso de araucárias enquanto se ouve o som terapêutico da queda d’água formada pelo Rio da Lapa, com seus três metros e meio de altura. É tudo muito inspirador!
Se na Parte Baixa do parque não faltam aconchegantes hotéis, no alto do Itatiaia só há uma opção de hospedagem: é o Abrigo Rebouças, o alojamento mais alto do país que oferece algumas beliches, um banheiro coletivo com água fria, uma cozinha e, para quem preferir uma interação ainda maior àquela adorável rusticidade toda, um camping. O passeio nas alturas pode incluir também visitas às cachoeiras do Aiuruoca e das Flores, além de uma caminhada de um ou até dois dias pela interminável Travessias, desde que o preparo físico do visitante esteja em dia e também que ele esteja acompanhado por um dos guias credenciados pelo ICMBio. Portanto, já sabe, né? Quando for se aventuras na Parte Alta, recomenda-se levar calçados propícios à caminhada, além de uma mochila com trocas de roupa, protetor solar, água, alimentos leves e nutritivos e um lixinho para não deixar nada por lá.
Sabia que Itatiaia em tupi significa “penhasco cheio de pontas“? E não é à toa. Longas trilhas levam às direções norte, sul, leste e oeste dos altos do parque (e mais uma vez, recomenda-se o acompanhamento dos guias especializados), onde se pode conhecer o Morro do Couto, os chamados Ovos da Galinha, as pedras (elas estão por toda parte) Assentada, Furada, do Altar, da Tartaruga e Maçã e o formoso Pico das Prateleiras, um ponto extremamente fotogênico e relaxante. Dali, dependendo do tempo, a vista pode contemplar o Vale do Paraíba e algumas cidades da região.
Já o altíssimo Pico das Agulhas Negras está situado na parte mais alta do alto da Parte Alta, entendeu? OK, explico melhor (direto e reto): o ponto preferido dos escaladores e montanhistas se encontra a 2.791 metros de altitude. As nuvens, antes tão distantes, agora parecem fazer parte do nosso cotidiano e deixam o pico ainda mais sedutor. Só um detalhe: se sua praia não é escalar, para chegar até o cume caminhando, leva cerca de três horas. No final, em meio ao azul do céu e acima de qualquer preocupação que poderia ter sido carregada até ali, a tensão é naturalmente expurgada e a conclusão é de que valeu cada passo dado. Afinal, o Parque Nacional de Itatiaia é do Brasil!
* para mais informações sobre esse destino, acesse: ICMBio